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CRÔNICA | Tragédia em Sulacap: miliciano que se escondia no bairro é morto, mas ação vitima moradores e comunidade

  • Foto do escritor: Alexandre Madruga
    Alexandre Madruga
  • há 21 horas
  • 5 min de leitura

Era 3 de abril de 2025, 22:45h, dia do jogo do Flamengo estreando na Libertadores e um dos principais points do loteamento do Jardim Sulacap, a lanchonete Ander Lanches, para os íntimos o Bar do Leco, que na verdade se chama Alexsandro Leite Oliveira, de 45 anos, e trabalha na Rua Barbara Heliodora com a Rua Modestino Kanto. Em dias de grandes eventos ou movimentação, como nessa fatídica quinta-feira, mesas ocupam as calçadas dos dois lados da rua. Como sempre agem quando está em funcionamento, os mais amigos estão sentados ao lado da churrasqueira comandada pelo Leco na beira da calçada. O estabelecimento comercial se divide em dois, uma parte lanchonete com televisão, mesas, cadeiras e a outra com açaí, comandada pela esposa do Leco. O comércio familiar, claro, envolvia toda família no processo, com um dos filhos ajudando no atendimento, outro mais novo que sempre brinca na calçada de bicicleta. O Bar do Leco é o retrato do que significa o ambiente e perfil do Jardim Sulacap, como um lugar familiar, aconchegante, verdadeiro point para assistir partidas de futebol, secar o adversário ou torcer pelo seu time, descontrair e bater papo. Leco é tricolor, mas não perdia a oportunidade de receber os amigos torcedores rivais e zoar a cada derrota, claro. Mas, o fatídico 03/04/2025 deixará uma marca difícil de ser esquecida.


Câmeras de segurança flagraram um Corolla de cor escura vindo pela Rua Bárbara Heliodora, totalmente filmado e com janelas fechadas. O motorista não parecia preocupado com os quebra-molas, diante da velocidade em que dirigia. Por volta das 22:45h o veiculo chega em frente ao Bar do Leco e, segundo testemunhas, três homens de fuzis, nem saem do carro, abaixam as janelas e miram num recém chegado morador do bairro, que esperava um lanche ficar pronto. O veiculo ainda em movimento se preparava para sair do local, quando os criminosos resolvem atirar para onde estavam todas as outras pessoas, com balas chegando a bater na parede de uma residência do outro lado, na Rua Modestino Kanto. Os bandidos não tiveram pena de jovens, adultos e pessoas que estavam no Bar do Leco apenas para curtir mais uma noite.


Ao chegar ao local da tragédia minutos depois, o ambiente era de tristeza, agonia, medo e muita revolta, ainda que não totalmente evidente. Os sentimentos estavam a flor da pele, a curiosidade também. Muitos chegavam perto das vítimas fatais, querendo confirmar com os próprios olhos a informação do falecimento de alguém querido ou conhecido. A tentativa de isolar o local do crime pela PM não foi tarefa simples e todos, policiais e moradores, seguiam com os ânimos frágeis e com tensão esperada pela magnitude da tragédia. Algo jamais visto em tamanha magnitude nos 80 anos do Jardim Sulacap, comemorados em janeiro.


A atitude covarde dos criminosos matou um jovem batalhador, que fazia entrega para o Leco nos dias de semana e na Esquina do Frango nos finais de semana. Luis Philippe Pires, de 25 anos, o Bel para os amigos, só estava no local aguardando a próxima entrega. Deixa filhos, esposa e uma família despedaçada. Outra vitima fatal foi Luiz Claudio Soares Serpa, de 61 anos, mais conhecido simplesmente como Lulu, um querido pela comunidade, que ajudava moradores em situação de rua, dando quentinhas nos finais de semana. Alexandre Oliveira de Melo, de 59 anos, foi socorrido para o Hospital Municipal Albert Schweitzer atingido na perna e segue internado.


Ainda no local, a PM descobriu que Jadir Barbosa Tavares Junior, de 33 anos, outro morto, estava com um Compass preto blindado parado na esquina. De posse da identificação dele, os policiais sarquearam (jargão para levar dados no sistema de segurança pública) e descobriram que o morto era sobrinho do ex-vereador Zico Bacana, que quando edil foi convidado por algum morador a conhecer o Campo do Muralha, na tentativa de conseguir que a praça conseguisse ajuda do então político para demandas do local. Pelo visto, ele e a família não se esqueceram do bairro, mesmo após a morte de Zico em agosto de 2023, junto com o irmão Jorge Barbosa Tavares, em circunstâncias parecidas com o ataque ocorrido nesta quinta-feira.


Zico Bacana foi eleito em 2016 e não conseguiu se reeleger em 2020. Enquanto era vereador, levou um tiro na cabeça, mas de raspão, enquanto estava em um bar, em 2020. Em 2008, antes de ser eleito, foi citado na CPI das Milícias como um dos chefes de grupos paramilitares que atuavam na região de Guadalupe e Ricardo de Albuquerque, mas não foi indiciado.


Mas e a vítima alvo dos criminosos, o que estava fazendo morando no Jardim Sulacap, onde estava residindo poucos meses? Segundo informações, ele se apresentava com outro nome e estava tentando se entrosar com os moradores locais, ajudando em campanhas de doação de alimentos e lanchando no Bar do Leco vez ou outra. Segundo o jornalista Bruno Assunção, Janir tinha relacionamento com “Dedeia”, chefe do Terceiro Comando Puro (TCP), morto em confronto com o Comando Vermelho no ano passado na divisa entre Chapadão e Pedreira. O sobrinho do ex-vereador teria traído a milícia e se aliado ao narcotráfico do TCP, tentando expandir para a região de Guadalupe após a morte de Zico Bacana, e estaria morando no Jardim Sulacap para ficar escondido e não ser morto.


A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) assumiu o caso e agentes estiveram no local realizando perícia por duas vezes, ouvindo testemunhas e recolhendo imagens de câmeras de segurança. A polícia trabalha com a hipótese de acerto de contas, mas ainda não descarta outras motivações para o crime.


Além de todas as outras pessoas que estavam no bar do Leco na hora do tiroteio, igualmente vitimas da tragédia, existe toda família do Leco, traumatizada e horrorizada com tudo que aconteceu em 03/04/2025. Como uma ação divina, Leco e o filho maior saíram da calçada segundos antes da ação dos criminosos. O caçula, dormia tranqüilamente dentro do estabelecimento, perto da mãe que também estava trabalhando. Encontrei a mãe nervosa aos prantos com a família do lado de fora, enquanto Leco prestava esclarecimento aos policiais e recebia afagos da comunidade a cada momento.

Além de todas as orações para as vitimas fatais e a vitima ainda internada, necessário todo apoio da comunidade sulacapense aqueles que ficaram, as famílias tanto dos que se foram, quando ao Leco e toda parentela.


Renata Almeida, presidente da Associação de Moradores de Sulacap (Amisul) e eu estivemos na tarde dessa sexta-feira (04) junto com filhos do Leco para prestar toda nossa solidariedade e nos colocar a disposição para colaborar no que precisarem. O mesmo está sendo feito, ainda que virtualmente, para as demais famílias vitimizadas na tragédia.

A Primeira Igreja Batista de Jardim Sulacap, através do Pastor Ciro, também se colocou a disposição para apoiar e ajudar a todos enlutados após o seputamento, que acontece nesse final de semana. A igreja também participou da vaquinha que permitiu o sepultamento do Bel no Jardim da Saudade.


O recado para toda comunidade é que o momento é de união, solidariedade e perseverança. Nosso bucólico e aprazível bairro tem seus problemas, mas a tragédia ocorrida em 03/04/2025 não faz parte da nossa rotina e cotidiano. Assim que o bar do Leco reabrir, e ele vai reabrir, devemos todos nos comprometer em estar lá, colocando os pés, corpo e alma naquela calçada que vitimou amigos e moradores muito queridos.

Devemos estar erguidos, de pé, de frente, para mostrar que o medo vai passar e dar lugar ao que é o bar do Leco, um local de reunião, de encontros, de descontração. A marca da tragédia ficará, mas em honra aos que se foram, não devemos desistir do nosso bairro, nem do Leco e família.


Desistir não é opção.

Acreditar e ter fé é obrigação.

Vamos todos juntos lutar pelo Jardim Sulacap.

 

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