CINEnews | Especial Musicais (Parte I): Primórdios e Opiniões Divididas
Ninguém consegue viver somente trabalhando. Ou estudando. Várias pesquisas sugerem que intercaladas a essas atividades, é importante existirem momentos de lazer. Pausas para fazer algo divertido, além de relaxarem a mente, renovam as ideias e nos tornam mais produtivos. O balanço entre diversão e trabalho é vital.
Por isso, cumpridas as obrigações diárias, todos acabamos procurando alguma atividade prazerosa para nos ocupar, seja assistir a um filme ou ler um livro. E, enquanto temos várias opções à nossa disposição hoje em dia, antigamente não era assim. Dentre os povos da antiguidade, foi na Grécia Antiga que se desenvolveu maior interesse e preocupação por um bom entretenimento, isso resultou na utilização da música para este fim, bem como no surgimento de uma das mais importantes artes: o teatro.
Reconstituição do Teatro de Dionísio, peça central na Grécia Antiga.
(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_na_Gr%C3%A9cia_Antiga)
E assim permaneceu por algum tempo, até que já em Florença, no século XVI, a música e o teatro finalmente foram unidos, formando-se a Ópera. Dois séculos mais tarde, surgiria a Opereta, uma espécie de versão mais simples, por vezes cômica e com mais diálogos que a ópera. A opereta torna-se instantaneamente popular na Alemanha, Inglaterra e Itália.
Imigrantes fascinados por essa junção harmoniosa, resolvem exportar as operetas para Nova York, onde desde o princípio, ocupam a Avenida Broadway. Lá, o gênero se desenvolveu e ganhou uma versão mais americanizada, que viria a se tornar os Musicais no teatro como conhecemos atualmente.
Algum tempo depois, com o advento do cinematógrafo e o cinema ganhando força, os grandes produtores do país começaram a enxergar um meio lucrativo de unir cinema, música e teatro. Esse era o começo dos Musicais no Cinema.
Um “Filme Musical” não se classifica como um gênero em específico, mas como um estilo, uma forma de se fazer o filme, tanto que o longa em questão, pode ser uma comédia musical, terror musical, drama musical, dentre outros. Basicamente, filmes desta qualidade são caracterizados por uma narrativa que se utiliza predominantemente ou exclusivamente de músicas e coreografias (sendo estas, números de dança ou não), para sustentar seu enredos.
“A Garota Genial (1968)” considerado um clássico dentre os musicais.
(Obtida em: https://filmow.com/funny-girl-a-garota-genial-t6951/)
Este estilo é muito controverso e desde sempre divide opiniões, por isso, decidimos realizar uma pesquisa com vocês para entender o que nossos leitores e amigos acham sobre o tema. Dentre as 69 pessoas que responderam à pergunta: O que você acha sobre filmes do estilo Musical? Gosta ou não? As preferências foram bem divididas. Até o momento, os votos pela nossa enquete no Facebook que conta com mais de 50 pessoas, está dividida exatamente meio a meio, com 50% expressando sua simpatia por esse tipo de filme e 50% contra. Dentre outras pessoas que responderam individualmente à pergunta, o mesmo acontece: metade gosta, metade não. E por que será que este fenômeno acontece? Bem, aqui vão algumas opiniões para nos ajudar a descobrir.
Para os fãs do estilo, a principal consenso é que músicas bem pensadas, e programadas para entrarem na cena correta e no momento certo, agregam valor à obra, tornando-a mais lúdica e interessante.
Há ainda aqueles que não gostam nem desgostam, mas que, por vezes, por conta de um ator/atriz, temática que consideram interessante, ou pela presença de músicas de alguma banda preferida (ou da própria banda), acabam indo conferir o longa e até gostam. Uma das opiniões que mais chamou a atenção dentro deste grupo foi a de Ewerton Lenildo, que comanda o blog Viajante das Letras: “geralmente gosto daqueles [musicais] que abordam temas importantes como preconceito, machismo, transexualidade, essas coisas; Temas polêmicos e que vão agregar alguma coisa.”
Já dentre aqueles que não gostam, a principal reclamação é que algumas músicas e números de dança podem ser longos demais, tornando a cena em questão enfadonha e atrapalhando os diálogos e o ritmo da película como um todo.
Cena famosa do filme ‘A Noviça Rebelde’, em que Julie Andrews canta ‘Sound of Music’.
Outro posicionamento bem interessante recebido foi: “acho meio constrangedor todos cantando e dançando alegremente e na [cena] seguinte todos sérios e levando a vida normal. Imagina isso acontecendo na nossa vida cotidiana?”
De fato seria bem estranho, não é mesmo? Ou será que isso é perdoável, em favor da arte? A questão é que, essa divisão de opiniões parece ser tão expressiva, que nem mesmo em nosso país temos grandes produções conhecidas no estilo, e nem tampouco o interesse em realizá-las, ainda que tenhamos alguns exemplos de sucesso no teatro nacional, como a peça ‘Nuvem de Lágrimas’, livremente inspirada na literatura inglesa de ‘Orgulho e Preconceito’ da escritora Jane Austen, e trazida para o cenário do interior paulista por meio de canções de Chitãozinho e Xororó.
Aqui vemos os atores Lucy Alves e Gabriel Sater, protagonistas do musical.
(Foto por: Otávio Dias | Obtida em: https://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/11/musical-reconta-orgulho-e-preconceito-com-cancoes-sertanejas.html)
Na época de lançamento, a peça foi muito bem recebida pelo público. E este não é o único exemplo, a adaptação de peças da Broadway em terras tupiniquins também têm crescido cada vez mais, e feito bastante sucesso, como a da peça ‘Chicago’ com a participação da atriz Cláudia Raia, e mais recentemente ‘Mamonas’, que estreou em 2017 e conta a história de vida da banda Mamonas Assassinas.
A última produção mencionada conseguiu o incrível feito de arrastar mais de 70 mil pessoas aos teatros, então, fica aqui o questionamento: se os brasileiros vão ao teatro assistir musicais, por que não vão também ao cinema?
A principal crença é que, por geralmente terem duração um pouco mais curta e contarem com apresentações ao vivo por parte dos atores, os musicais em teatro acabam se tornando um pouco mais dinâmicos e, consequentemente atraem maior atenção do público brasileiro. Já nos cinemas, o processo todo é um pouco mais estático e por isso, costuma atrair mais o público que já é fiel ao estilo.
(Obtida em: http://prr2fgrupo7.blogspot.com.br/2012/05/qual-diferenca-entre-teatro-e-cinema.html)
Essa diferença entre Teatro vs. Cinema na questão dos musicais pode ser percebida por todo o mundo, quando comparamos por exemplo os ingressos rapidamente esgotáveis da Broadway e a frequência de público lá fora em filmes do estilo, isso se torna evidente. Como uma coisa puxa à outra, esse resultado tem diminuído drasticamente a produção do estilo no cinema.
Há algum tempo, na chamada “Era de Ouro”, vários musicais eram lançados por ano; já olhando a lista de últimas lançamentos, vemos que não há nem uma frequência anual, geralmente há grandes intervalos de tempo entre um e outro, como mais recentemente entre Mamma Mia (2008) e Os Miseráveis (2012).
Na semana que vem, falaremos um pouco mais sobre os principais filmes que fizeram sucesso por aqui, daremos algumas indicações para você ser iniciado no estilo (ou tentar fazer as pazes com ele) e anunciaremos o resultado definitivo da nossa enquete, para participar, acesse(INSERIR O LINK DA ENQUETE NO FACE SOBRE MUSICAIS). Até lá!
Andressa Gonçalves é futura jornalista. Como adora cinema, sempre pesquisa sobre paletas de cores, trilhas sonoras, curiosidades, e tudo o que pode sobre este universo. Mantém também o projeto bilíngue Expedição Musical, que toda semana apresenta ao grande público, novos talentos do cenário musical. Contato: miss.gonc00@gmail.com