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Fernanda Ramiro - Fonoaudióloga

FONOnews | O que é afasia?


Afasia é um distúrbio de linguagem adquirido após a ocorrência de uma lesão no Sistema Nervoso Central (SNC). Basicamente, a lesão cerebral ocorre em áreas envolvidas no processamento lingüístico, gerando uma alteração no conteúdo, forma e /ou uso da linguagem.

Quais as causas? A afasia tem como causa a ocorrência de uma lesão cerebral. As lesões cerebrais são normalmente causadas por AVCs (acidentes vasculares cerebrais- comumente chamados de derrames) isquêmicos ou hemorrágicos, além de traumatismos craniencefálicos, sobretudo os abertos, infecções que atingem o cérebro, como as encefalites, tumores cerebrais, anóxias ou hipóxias, entre outras causas menos comuns.

Quais os tipos? Existem 10 tipos de Afasias Corticais, ou seja, afasias cujas lesões ocorreram no córtex cerebral. São elas: Afasia de Broca, de Condução, Transcortical Motora, de Wernicke, Transcortical Sensorial, Amnéstica ou Anômica, Transcortical Mista, Motora Mista, Mista e Global.

Para simplificar, no entanto, podemos afirmar que, quando o paciente está afásico, há certamente um déficit de emissão e também de compreensão da linguagem. Desta forma, quando o paciente apresenta uma dificuldade em emitir uma mensagem, por exemplo, (falando ou compreendendo), maior do que compreender uma mensagem, estamos diante de uma Afasia Emissiva ou Expressiva.

Se, ao contrário, o paciente apresenta um déficit maior em compreender uma mensagem (ouvida ou lida) do que para expressar-se verbalmente, estamos diante de uma Afasia Receptiva ou Compreensiva. E ainda, se a compreensão e a emissão das mensagens mostram-se comprometidas de modo similar, temos a ocorrência de uma afasia Mista. As Afasias Emissivas são mais comuns, mas há um grande erro quando se afirma, por exemplo, que “o paciente entende tudo, mas não diz nada”, porque, nesse caso, pode ser realmente que a expressão verbal esteja marcadamente mais prejudicada do que a compreensão,no entanto, por se tratar de um distúrbio de linguagem, certamente a compreensão também estará comprometida, mesmo que em grau leve.

Quais os sintomas? Dificuldades para falar ou entender a fala, ler e compreender o conteúdo e escrever. Diversas alterações são previstas na fala, como dificuldade em articular as palavras, que em casos mais graves podem chegar a uma ausência total da fala, distorção de sons, enunciados agramaticais, esquecer nomes de objetos ou palavras comuns, trocar palavras que se assemelham quanto à forma ou quanto ao significado, dificuldades em iniciar ou manter uma conversa, em relatar fatos mantendo-se o foco principal do assunto, entre outras. Entre as dificuldades de compreender mensagens oralmente (fala) ou graficamente (leitura), os distúrbios variam consideravelmente quanto à gravidade, podendo o paciente ter dificuldade em compreender desde palavras simples, ou apresentar déficits mais leves, como em compreender textos complexos, ou sutilezas lingüísticas como piadas, inferências, conteúdos com duplo sentido.

Já na escrita, o paciente pode perder completamente a capacidade de escrever, escrever com troca de letras ou apresentar dificuldades mais leves como organizar as idéias e elaborar um texto com coesão e coerência.

Basicamente o que se observa, portanto, é que os casos variam muito quanto aos tipos de déficits encontrados, bem como quanto à severidade dos mesmos.

Qual o tratamento? Tem cura? O tratamento consiste na realização de terapia fonoaudiológica. A terapia tem como objetivo, após a realização de um diagnóstico preciso e de um estudo minucioso sobre quais são os déficits no processamento de linguagem, a reativação, a reorganização ou a substituição da função. A reativação consiste em rever a informação, regras ou procedimentos no processamento lingüístico que estão deficitários. A reorganização consiste em ensinar ao paciente um modo diferente de realizar a mesma tarefa e a substituição consiste no uso de estratégias funcionais para processamentos extremamente deficitários.

O prognóstico varia de paciente para paciente e depende tanto de fatores neurológicos (tipo, extensão e área da lesão cerebral), individuais (idade, escolaridade) quanto de fatores clínicos como melhoras que o paciente obteve espontaneamente após a lesão, e resposta inicial (primeiros 6 meses, principalmente) à estimulação. Além disso, claramente também depende de fatores não mensuráveis cientificamente, mas igualmente importantes como motivação do paciente e participação do paciente e da família na reabilitação.

Pode-se afirmar que todos os pacientes expostos à estimulação de linguagem (terapia fonoaudiológica) apresentam melhoras, porém há pacientes que melhoram tanto, que o distúrbio de linguagem fica praticamente imperceptível, enquanto outros apresentam melhoras menos acentuadas ou pouca resposta à reabilitação. Nestes casos, também é papel do terapeuta trabalhar com adaptações, tendo como objetivo final sempre viabilizar a comunicação do paciente no meio em que ele vive. É importante destacar que quanto mais precoce é a exposição ao programa de reabilitação, melhores e mais rápidas são as respostas do paciente ao tratamento. Portanto, após a ocorrência da lesão cerebral e conseqüente afasia, a terapia fonoaudiológica deve ser iniciada o mais rápido possível, assim que o paciente tiver condições clínicas gerais de ser exposto ao tratamento.

A doença acomete que tipo de pessoas? Normalmente, pessoas que apresentam fatores de risco para um AVC como: hipertensão arterial sistêmica não-controlada (pressão alta), algumas doenças cardíacas, fumantes – pela aceleração do processo de arterioesclerose, malformações artério-venosas, sedentarismo, diabetes, associação entre múltiplos fatores, entre outros.

Existe prevenção? A prevenção consistirá em evitar a ocorrência e também a re-incidência do insulto cerebral, prevenindo, tratando e realizando acompanhamento médico diante da presença de um ou de vários fatores de risco para um AVC. Ressalta-se que o AVC é a mais freqüente das doenças vasculares encefálicas que constituem a terceira causa de morte em vários países desenvolvidos. No Brasil, é a principal causa de morte em adultos e é ainda a doença mais incapacitante. Infelizmente, o AVC não é a única causa da afasia, mas certamente é a mais comum e pode ser evitado em muitos casos com mudanças de hábitos e acompanhamento médico adequado.

Fernanda Cunha Ramiro é Fonoaudióloga fernandaramiro1@gmail.com

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