GESTÃOnews | Sacar poupança ou pagar parcelado?
Em mais um capítulo sobre “o quanto os juros lhe empobrece”, falaremos sobre situações onde o individuo opta por uma decisão “pouco inteligente”, preferindo pagar juros absurdos hoje praticados no mercado ao invés de utilizar, “inteligentemente”, suas reservas.
Inicialmente coisas sobre juros que devem ficar muito claras para você: 1) Pagar em 4, 6 ou 10 parcelas “sem juros” isso NÃO EXISTE. Sempre haverá “juros embutidos”. 2) Jamais a taxa de juros de sua aplicação financeira será maior que a taxa de juros que você paga em qualquer financiamento. O motivo é simples: A taxa de juros de financiamento é formada a partir da taxa que o banqueiro remunera as aplicações financeiras que você faz. Além disso, são acrescidos Custos Operacionais + Impostos + Acréscimo por Inadimplência + Lucro da Instituição.
Os juros de financiamento são formados a partir de uma cadeia, onde alguém recebe de um lado (e remunera) e empresta do outro (cobrando). Os custos, impostos, riscos e lucro são pagos por quem usa o dinheiro.
O brasileiro tem o hábito de não mexer na poupança já “feita” quando se depara com uma situação de pagar à vista com bom desconto usando suas reservas, por temer não conseguir juntar novamente os recursos para retornar ao patamar de saldo já conquistado.
Isso é muito pouco inteligente já que, com dinheiro na mão, você poderá fazer uma boa negociação (para os dois lados), utilizar suas reservas e se programar para poupar mensalmente o valor que ia pagar nas parcelas da compra, chegando ao final com uma poupança superior ao que teria se fosse pagar a compra parceladamente.
Em alguns casos, por mais que você tente barganhar um desconto para pagar à vista o vendedor fica irredutível e mantém o mesmo valor para pagamento em 1, 3, 5 ou 12 parcelas. Isso é mais normal de ocorrer em compras pela internet. Mas se você for à loja (Ponto Frio, Casa Bahia, Ricardo Eletro, etc) e propuser um desconto para pagamento à vista sempre terá “jogo”. O vendedor, com certeza, irá submeter ao gerente uma eventual proposta para pagamento à vista com algum desconto. Se você tem o dinheiro, aperte, dê você o preço que quer pagar. Comece bem baixo. Sempre haverá contrapropostas até chegar a um valor que você entenda aceitável e que mesmo assim ainda será bom também para o vendedor. Quer ver?
O mercado trabalha hoje embutindo nos seus financiamentos uma taxa de juros que pode chegar a 5,5% ao mês. “Inocente” é aquele que acredita que vai pagar em 12 parcelas “sem juros”.
Imaginemos que você tenha na sua poupança um saldo de R$1.920,00. Passou na loja e viu uma geladeira com o preço de R$1.920,00 à vista ou em 12 parcelas de R$160,00 “sem juros”.
Como dito acima, com a taxa de juros “embutida” no preço, de cerca de 5,5% ao mês, o custo sem os juros seria em torno de R$1.380,00.
Você então negocia e concorda com um desconto de R$320,00, saca R$1.600,00 de sua poupança e se programa para fazer, durante os próximos 12 meses, um depósito mensal na poupança do valor igual ao da parcela que você teria que pagar, caso comprasse financiado em 12 vezes.
Para explicar o exemplo vide a tabela abaixo.
Entenda como foi bom para as duas partes: Você reduziu o preço em R$320,00 e o fornecedor ainda conseguiu embutir, mesmo recebendo à vista, um acréscimo de R$220,00 sobre o que seria o justo preço à vista. E sua poupança? Você partiu de um saldo de R$320,00, depositou R$160,00 durante 12 meses e ao final do período o seu saldo será de R$2.313,43, ou seja, R$275,00 a mais do que se você não tivesse mexido na poupança e pago a compra parcelada.
O que vimos foi uma negociação onde as duas partes saíram satisfeitas em uma relação ganha x ganha. Essa projeção foi feita com o rendimento mensal da poupança de 0,5% ao mês já que a correção da TR (Taxa Referencial) há meses está na casa de zero. Se essa taxa mensal for maior (somando TR acima de zero) maior ainda será a diferença de ganho.
Logo, o raciocínio simples será: Conseguirei de desconto mais do que a poupança remunerará minhas reservas. Na tabela acima podemos verificar que a poupança lhe rendeu o equivalente a 6,17% em 12 meses. Isso equivale a dizer que se você conseguir mais que R$61,70 em cada R$1.000,00 (transformar R$1.000 em 12 parcelas para R$932,00 pagando à vista) já será um bom negócio. Portanto, “boralá” negociar um desconto maior que este.
Poupar (como dizem comerciais atuais na TV) passa a ser um “hábito”. É uma “cachaça” que faz bem e a cada patamar alcançado é gerado um novo patamar mais alto como meta. Porém, essa reserva pode, sim, ser utilizada de forma inteligente ou, se for o caso, para uma eventualidade de emergência. Mas sempre deve ser reposta e superada.
Por isso, não se engane, nunca será melhor negócio manter suas aplicações intactas e pagar as compras parceladas se houver uma condição de pagamento à vista com descontos.
Razão? A taxa de juros embutidas em qualquer financiamento (5,5% a.m.) será sempre muito maior que a taxa de juros que você conseguirá em suas aplicações (perto de 0,5% a.m. na poupança e até o máximo de 1% a.m. líquidos nas melhores aplicações do mercado formal).
Temos aí pela frente 2 “pancadas” reservadas para o mês de janeiro: IPVA e IPVA. Cada vez mais os descontos para pagamento à vista são menores. O que fazer? Pagar “a vista” ou “parcelado”? Falaremos disso tão logo essas informações estejam disponíveis.
Valcir Ramos é Economista, pós-graduado em Adm. Financeira pela FGV-RJ, Consultor/Coach na VRamos Consultoria Planejamento Estratégico e Gestão
www.vramosconsultoria.com.br / (21)98106-8974