GESTÃOnews | Juros, uma grande roubada
Em nosso primeiro artigo da coluna GESTÃOnews ressaltamos os grandes males que os “juros” podem acarretar no desequilíbrio de suas finanças assim como na saúde financeira de sua empresa. Dada a importância desse “mal” hoje destinaremos um artigo inteiro para falar sobre o assunto.
No mundo inteiro a acumulação de capital traz um grande desequilíbrio para humanidade a ponto de somente 8 indivíduos possuírem, na sua totalidade, mais riqueza que a metade mais pobre da população do planeta, ou seja, nesse caso 8 valem mais que 3,8 bilhões. Essa acumulação é tão perversa que, com o tempo, se alimenta de si própria e se encarrega de aumentar essa distorção.
Somente para exemplificar, se um desses indivíduos bilionários fizer uma aplicação de “apenas’ U$1.000.000.000 de seus tantos bilhões, a uma taxa razoável de mercado de 5% ao ano, terá de rendimentos diários algo em torno de U$139.000, ou seja, mais do que ele teria capacidade de gastar no mesmo prazo.Com isso, a parte não gasta desses rendimentos será acrescida ao saldo aplicado (principal), gerando então um maior valor diário de rendimentos (capitalização dos juros).
Observem que meu exemplo foi dado sobre, apenas, 1 bilhão de dólares. O mais “pobre” desses 8 que citei tem hoje uma fortuna que beira aos U$50.000.000.000.
Como dito em nosso primeiro artigo os juros são o aluguel pago pela utilização do dinheiro alheio. Dissemos também que “pagar juros lhe empobrece”.
Para que esteja em equilíbrio, um mercado econômico precisa ter quantidade de moeda equivalente a quantidade de bens e produtos disponíveis. Logo, em condições normais, o estoque total de dinheiro em uma economia só cresce se houver o aumento da produção de bens e/ou serviços, ou seja, o direcionamento desses recursos para investimento em atividades produtivas que gerem riqueza.Como em uma aplicação financeira nada se cria, nada se produz, os juros representarão simplesmente a transferência de dinheiro de alguém que está empobrecendo para alguém que estará enriquecendo, aumentando com isso a concentração de riquezas.
Importante ressaltar que os juros terão caráter positivo quando resultarem de investimentos em atividades que gerem riqueza. Dessa forma financiará a produção, gerando empregos e renda e, por consequência, o aumento do consumo. Assim se forma um círculo virtuoso, onde teremos o crescimento da economia, criação de empregos, produção, salários, distribuição de renda e, por consequência, o aumento do consumo como engrenagem re-alimentadora do processo. Essa situação só ocorre quando a taxa de retorno da atividade econômica for maior que a taxa de juros paga pelo uso do dinheiro (aplicações financeiras). Se for menor não haverá atratividade para o capitalista em colocar seu dinheiro em atividades produtivas já que o risco é menor na “aplicação financeira”.
Uma outra forma de encarar os males advindos dos juros é a forma especulativa como atua o mercado no Brasil, onde uma empresa produz um bem por R$500, o lojista revende por R$1.200 à vista ou ao dobro do preço se for venda a prazo.
Na verdade, essa loja prefere vender a prazo, pelos R$2.400, sem que esse acréscimo de juros, puramente especulativos, gere mais produção desse bem e muito menos novos empregosousalários pagos. Seria, como no caso de uma aplicação financeira, somente mais uma agiotagem com a utilização dos recursos.
No Brasil, o grande déficit do governo não é causado pelos gastos públicos com despesas e investimentos. Ele é formado pela absurda transferência de juros pagos pelo governo aos bancos pelamanutenção da dívida interna, ou seja, necessidade do governo se financiar com recursos de terceiros (mercado financeiro – entenda-se “bancos”) para fechar as contas do seu orçamento anual. Mesmo com os cortes no orçamento da segurança, da saúde, da educação e infra-estrutura, os repasses aos bancos não deixam de ser feitos. Resumindo, mais uma forma de“enriquecer os ricos” e “empobrecer os pobres” que precisarão pagar por serviços que deveriam ser prestados pelo governo e que não o são em função da falta de recursos que foram desviados para fazer frente ao alto custo do serviço da dívida.
É muito normal as pessoas confundirem “investimentos” com “aplicações financeiras”. O primeiro é o direcionamento de recursos para atividades produtivas, na montagem de um negócio ou a compra de ações “primárias” de empresas que precisam se capitalizar para crescer (IPO – “Oferta Pública Inicial” de ações). Já as aplicações financeiras são simples especulações com dinheiro que nada geram (de produtivo) além da remuneração pelo “aluguel mensal” desses recursos.
Outro grande mal causado pelos juros é a chamada “bola de neve” da inadimplência. Indivíduos que se endividam além da capacidade de pagamento e passam a se utilizar das linhas de créditos mais acessíveis (Cheque Especial e Rotativo do Cartão de Crédito), juros esses que no Brasil estão totalmente fora de qualquer realidade mundial. Dada à necessidade dessa rolagem, e pelo alto custo desse “dinheiro”, acabam chegando a um ponto de insolvência, ou seja, perdem totalmente a capacidade de pagar o que devem.
Para se ter ideia do quanto essa situação é ruim para uma economia, atualmente no Brasil temos cerca de 60 milhões de pessoas com o nome negativado. Logo, não conseguem fazer créditos para consumir. Perde o mercado, perdem as empresas, enfim, perdem todos já que muitos empregos deixam de ser gerados pela falta de capacidade de consumo desses inadimplentes que não conseguem mais ter acesso a linhas de crédito disponíveis.
Portanto, fuja da utilização do cheque especial e nunca role parte da fatura do cartão de crédito para pagar nos meses seguintes. Caso tenha problemas financeiros, recorra a seu banco para um empréstimo pessoal (4% ao mês, que já absurdo) ao invés de utilizar o limite do seu cheque (9% ao mês) ou rolar a fatura do cartão (14% ao mês).
Valcir Ramos é Economista, pós-graduado pela FGV-RJ em Adm. Financeira, Consultor/Coach na VRamos Consultoria Planejamento Estratégico e Gestão
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