POLÍTICAnews: Ainda o debate, Direita x Esquerda
Impulsionada pelos acontecimentos políticos recentes, a sociedade brasileira tem demonstrado forte tendência ao debate cego entre os que defendem o ex-presidente Lula, e os simpatizantes do neo-integralismo, Jair Bolsonaro. Contra Lula e seus fiéis companheiros do Partido dos Trabalhadores, pesam uma série de crimes. Contra Jair Bolsonaro pesa um a incômoda associação à ditadura Militar que governou o Brasil de 1964 a 1979. Há uma grande parcela da sociedade que não está identificada com nenhum dos polos evidenciados nas redes sociais. São cidadãos ainda perdidos sob a avalanche de escândalos diários repercutidos nas mídias. A intolerância revelada nos debates tem demonstrado que a paixão ainda norteia a condução de discursos inflamados e pouco racionais, desviando o foco da crise brasileira e desprezando os valores essenciais para que haja um entendimento social. Dessa forma, tanta energia desprendida contribui para a inviabilização da reconstrução do Brasil. Vestir a camisa da direita ou da esquerda, como se veste a camisa de dois times de futebol rivais, certamente, não será suficiente para encontrar luz a fim de se enxergar a obviedade das soluções.
A crise ideológica, que acomete a sociedade brasileira, também está presente em outros continentes órfãos de uma doutrina que lhes possam conduzir politicamente. União Europeia, Oriente Médio, Ásia, África e toda a América, vivem uma inconsistência de planos políticos provocados por processos históricos ainda não absorvidos pelos cidadãos do planeta. Nessa onda, as falsas lideranças se lançam como messias dos novos tempos, ao encontrarem brechas de oportunidade com o fim único de ganharem seguidores perdidos. O exemplo disso foi a inesperada vitória de Trump nas eleições americanas e o crescimento das lideranças consideradas como retrocesso democrático na França, Alemanha e Argentina; representações consideradas de esquerda, como o atual governo português, Marcelo de Sousa; a crise venezuelana também revelou a fragilidade do socialismo latino-americano. Enquanto isso, democracias se mostraram viáveis no Uruguai, Chile, Suécia, Suiça, Holanda, Finlândia e Noruega.
Alguns prognósticos mais pessimistas, que comparam essas distintas realidades em relação ao Brasil, afirmam que a solução não está na esquerda, nem direita; nem liberalismo, nem socialismo, mas nos fundamentos principais da sociedade: valorização da família e da educação como raízes dos valores éticos. Pessimista porque estudos mostram que a recuperação social brasileira pela educação poderá levar de três a quatro gerações. Isso representa uma média de 80 anos, considerando a aplicação de políticas públicas nesse sentido, já, imediatamente.
Todas essas constatações apontam para o despreparo da sociedade brasileira em ter interesse no bem comum. A falsa democracia, com a qual a sociedade brasileira está acostumada a conviver, oferece a falsa ideia de que temos escolhas – princípio fundamental da liberdade – mas aqueles que deveriam representar os interesses comuns governam, legislam e julgam em benefício de seus próprios interesses, brigam entre si e refletem esse comportamento egoísta na sociedade. Assim, a sociedade também se classifica em grupos de interesses e assumem, para si, facções ideológicas que nada têm de base teórica, mas visam ao próprio benefício. Essa cultura política, e também social, em relação à política, se perpetua há séculos. A República Brasileira foi construída em uma costura de interesses, suas sucessões presidenciais se nutriram de golpes e farsas e a democracia se tornou esse arremedo que consente privilégios e avilta professores que trabalham sem receber salários, sob o velho jargão que diz ser essa profissão um sacerdócio.
Retornando ao ponto inicial, é evidente que, enquanto as discussões, o saudável embate de pensamentos e ideias, não ocorre, o Brasil sofrerá perdas de valores humanos inestimáveis. Para o benefício do bem comum, a análise das causas mais importantes para a construção da verdadeira democracia brasileira tem que começar agora, ou o Brasil será apenas memória de algo que nunca chegou a ser.
Jornalista, professor de História e Filosofia, pós-graduado em Comércio Internacional e Finanças - FGV RJ. Atuei como Editor do Jornal Folha do Turismo, Redator da Folha Dirigida, Assessor de Imprensa da Associação de Hoteleiros de Itatiaia e Penedo, fundador e Editor do Jornal Folha da Praia em 1992, Repórter policial do jornal O Dia.